Hoje fui voluntária do Banco Alimentar. Em boa verdade, não fiz mais que dar um saco à entrada do hipermercado e recolher os mesmos, nas caixas, já com as doações.
Os diálogos foram curtos. Porém, entre o "Bom dia" e o "Gostaria de contribuir para o banco alimentar?" esbarrei-me com a solidão, a falta de esperança, a doença, a vergonha e a pobreza. Algumas destas vinham nos olhos, nas mãos ou ainda na voz a tremer. Notava-se o peso e a sombra da descrença. Notava-se o arrastar da vida e a dor dos dias.
Adoeci. Tenho ainda os poros entupidos porque teimo em viver assim, a absorver tudo.
Eu só queria poder falar-lhes num abraço e dizer que ia ficar tudo bem, mas não tinha como garantir isso. Não podia cair na crueldade de semear uma esperança vã e vaidosa num terreno já tão massacrado.
Depois de jantar, a minha mãe ligou-me. Não houve o típico relato semanal ou a pergunta sobre a receita eleita. A minha mãe ligou-me e eu chorei-lhe a tristeza: a minha e a de todas as pessoas com quem me cruzei.
Há dias em que nos doem várias coisas. Hoje dói-me o Mundo.