Na minha aldeia não há um Senhor do Adeus, mas existe o Senhor do Sorriso. A cada pessoa que passa, a cada carro que calca o alcatrão, ele materializa um sorriso largo e translúcido do tamanho do Mundo.
Quando estou no pátio da minha avó e vejo o seu semblante a dobrar a esquina do muro da igreja, caiado de branco, desfaço-me num cumprimento alegre e impulsivo. Corro para lhe dar um abraço forte. O Senhor do Sorriso fica com cascatas límpidas nos olhos e protege-me ternamente nos seus braços quentes. Enquanto a minha face está deitada no seu ombro, sentindo os meus cabelos acariciados pelas suas mãos e a beberem do vapor exalado pela sua pele sinto a protecção, o amor e o carinho: voo. Penso: estremeço e acordo. Penso na crueldade pela qual o fazem passar, penso na sombra da solidão que o acompanha - sempre traiçoeiramente calada. Penso no sofrimento que as suas mãos engelhadas recolhem, dia após dia.